segunda-feira, 21 de março de 2011

A imbecilização da mulher na propaganda

Quem assiste à TV com alguma frequência já conhece o grande clichê dos comerciais de produtos de limpeza. É sempre a mesma historinha: uma casa, uma família, às vezes um animal de estimação e uma mulher vestida de "mãe" limpando o banheiro ou a cozinha para deixar o lar mais saudável para o maridão e prole.

Ora ela passa um esfregão no chão, ora ela esfrega o carpete, ora lava uma imensa pilha de pratos ou um cestão de roupas. Nunca se vê nem a sombra de alguém ajudando essa super-mulher, que, se seguirmos a lógica sócio-econômica e antropológica que rege nossos tempos, também deve ser uma p*ta profissional e ainda deve ter uma performance estelar no campo sexual.

Alguém conhece essa mulher? Ela existe de fato?

Para mim, não há dúvidas de que ela existe. Mas, em um país onde mais e mais homens trocam de posição com as mulheres (sem trocadilho) e assumem o comando do lar, não seria de se esperar que a nossa tão celebrada e competente propaganda acompanhasse a passagem do tempo e transferisse parte desse papel de super-mãe-esposa-mulher para o sexo oposto e explorasse isso em comerciais?

Lembro-me de um comercial de TV italiano que eu vi há muitos anos atrás (muitos mesmo - numa época em que eu ainda tinha disposição para assistir à RAI), no qual um homem é deixado sozinho em casa por sua mulher, depois que ela fez uma impecável limpeza na cozinha. Mal ele fica sozinho, e a cozinha vira um chiqueiro (porque ele resolveu, vejam só, cozinhar). Desesperado com a possibilidade de ser enxovalhado pela esposa, o sujeito limpa a cozinha toda com o mesmo esmero que sua mulher a limpara momentos antes. Quando ela chega, não percebe nenhum sinal do que ele havia aprontado, e ele respira aliviado.

Essa propaganda deve ter, pelo menos, uns 10 anos. A Itália é um país latino assim como nós e, também como nós, deve ter sua alta dose de machismo. Mas lá alguém já tinha acordado para a perceptível mudança de papéis, e resolveu capitalizar sobre isso. Por que isso ainda não acontece no Brasil? E, o que é ainda pior, por que a mulher ainda é retratada nos comerciais como uma boneca robotizada cujo maior objetivo na vida é tornar a casa mais limpa para que seus filhos possam brincar à vontade no chão? Por que essa mãe de comercial de TV ainda é um ser tão unidimensional, quase uma caricatura de dona de casa dos anos 50? Cadê a inovação e a criatividade, tão caras à nossa publicidade, nessas horas?

Esse fenômeno me faz pensar, também, na idiotização do adulto nos comerciais (mas isso é papo para outro post). Vivemos, de fato, em uma era comandada por crianças e adolescentes, e a publicidade não tardou em pular nesse bonde e retratar a Geração Z como uma grande força motriz, capaz de interferir em todas as decisões importantes tomadas no âmbito familiar. A idiotização da mulher, nesse contexto, é só mais um aspecto do que é esse começo de século XXI - um século em que pegamos todas as conquistas do últimos quarenta anos do século anterior e jogamos pela janela, sem dó nem piedade. São mulheres que largam a carreira por causa dos filhos, homens que abandonam suas esposas porque elas já "passaram da validade", adolescentes que engravidam porque acreditam que sexo e maternidade nada mais são do que uma brincadeira de casinha de adultos. É um século de regressão a velhos e infelizes padrões.

PS: Será que isso aqui é um passo na direção da inversão de papéis?

http://www.mulheresevoluidas.com.br/index.php

Veremos.


2 comentários:

Natalia A disse...

Ainda falta dizer aquela estorinha da mulher que estava doente, mas queria sair do repouso ( e da hidratação venosa) na emergência, pois tinha de fazer o almoço do maridinho imprestável.É... amigas e amigos, o cara não sabia esquentar uma comida já pronta! Detalhe sórdido: a mulher exercia cargo de comando onde trabalhava, mas em casa era um cachorrinho adestrado do marido.

Juliana A. disse...

Pois é. É aquela história das conquistas jogadas pela janela. As mulheres querem ser tudo ao mesmo tempo, mas sempre sacrificando o que elas têm de melhor e cedendo às cobranças sociais e familiares.